Você já ouviu falar que governança de dados é essencial para o sucesso das empresas? Com certeza sim. Mas o que talvez ninguém tenha te contado é que implementar um modelo de governança sem escutar as pessoas envolvidas no dia a dia pode ser um desastre.
Muitas organizações tentam resolver problemas de dados impondo regras de cima para baixo. Criam processos complexos, implementam frameworks robustos, contratam ferramentas caras e… o resultado?
As equipes continuam fazendo as coisas do jeito que sempre fizeram.
O modelo engessado vira só mais uma iniciativa que “não pegou”. E o que era pra ser controle e confiança, vira ruído e resistência.
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Afinal, o que é governança de dados?
A governança de dados é o conjunto de práticas, políticas, processos e responsabilidades que garantem que os dados de uma organização sejam bem gerenciados, protegidos e utilizados de forma eficaz.
Isso inclui desde a definição de quem pode acessar o quê, como os dados devem ser armazenados, até a padronização de termos e indicadores. Em teoria, é tudo lindo.
Na prática, pode ser um campo minado quando não se leva em consideração a cultura e o momento da empresa.
Governar dados não é só sobre controle. É sobre confiança, colaboração e clareza. Uma governança eficiente não é aquela que trava o fluxo de trabalho, mas sim aquela que habilita decisões melhores e mais ágeis.
Por que a imposição de modelos prontos falha?
Toda empresa tem uma cultura única. Pode ser mais formal, mais flexível, mais orientada a processos ou mais caótica.
Ignorar isso e tentar aplicar um modelo genérico de governança, como se fosse uma receita de bolo, é pedir para dar errado.
Quando um time de dados tenta forçar processos sem ouvir quem está na ponta, as pessoas sentem que perderam o controle. O novo processo parece burocracia. A reação é natural: resistência.
O resultado é desmotivação, burla de regras e perda de produtividade.
A maturidade em dados importa (muito)
Nem toda empresa está no mesmo estágio quando se trata de cultura analítica. Algumas ainda estão estruturando seus dados básicos. Outras já estão analisando dados em tempo real com inteligência artificial.
Tentar aplicar uma governança avançada numa empresa que ainda está organizando seus dados mestres é como colocar uma Ferrari na mão de quem ainda não tem carteira de motorista.
É preciso respeitar o momento da empresa e adaptar a governança ao seu nível de maturidade. Isso exige escuta ativa, diagnóstico claro e, principalmente, paciência.
A importância de uma abordagem evolutiva na governança de dados
Em vez de tentar resolver tudo de uma vez, comece pequeno e de forma simples. Escolha um processo crítico, uma dor real e comece por aí.
Um exemplo pode ser a padronização de KPIs de vendas. Ao invés de criar um comitê com mil regras, comece perguntando:
- Todo mundo entende da mesma forma o que é “venda concluída”?
- Como esse dado é coletado hoje?
- Quais os impactos dessa divergência nas decisões?
A partir disso, é possível definir um padrão que faça sentido para as áreas envolvidas e que gere valor real.
Aprenda com o que já funciona
Muitas vezes, algumas áreas da empresa já têm processos eficientes de governança, mesmo que de forma informal. Aproveite isso. Identifique o que já funciona bem, o que é respeitado pelas pessoas, e use como ponto de partida.
Você não precisa reinventar a roda. A governança de dados precisa parecer uma aliada, não uma ditadora.
O papel dos profissionais de dados
A importância de comunicar valor
Como profissional de dados, você não é só executor. É também um evangelizador da cultura de dados. Isso significa que precisa saber mostrar, com clareza e empatia o valor da governança para o negócio.
Em vez de dizer “tem que seguir esse padrão”, que tal explicar:
“Quando usamos um padrão único de status de pedidos, conseguimos analisar onde estão os gargalos e reduzir o tempo de entrega em 15%”.
Traduzir dados para o idioma do negócio
Muitas vezes, a barreira está na linguagem. Termos como “catálogo de dados”, “data lineage”, “steward” podem afastar áreas que não estão familiarizadas.
Traduzir esses conceitos para a realidade do negócio é essencial.
Por exemplo:
- Data lineage → “Entender de onde vêm os dados que usamos nos relatórios”
- Steward de dados → “Pessoa responsável por garantir a qualidade de um dado específico”
Governança de dados precisa ser acessível, não um idioma alienígena.
Construindo uma governança de dados baseada em confiança
A base de uma boa governança não está nas regras, mas na confiança entre as áreas. Quando o negócio entende que a governança serve para facilitar o trabalho e não para controlar, a adesão aumenta naturalmente.
E como se conquista essa confiança? Com transparência, escuta ativa e entregando valor real.
Mostre resultados, compartilhe aprendizados e esteja aberto a ajustes. A governança precisa ser um organismo vivo, não um manual rígido.
Envolva as pessoas certas desde o início
Não adianta montar uma superestrutura de governança só com o time de dados. É essencial envolver representantes das áreas de negócio desde o início.
São essas pessoas que conhecem as dores, as rotinas e as oportunidades reais.
Monte grupos de trabalho colaborativos, teste hipóteses, valide processos e evolua junto. Governança boa é aquela construída com quem vive o dia a dia.
Boas práticas para implementar uma governança de dados eficaz
Antes de sair desenhando processos, faça um diagnóstico. Entenda:
- O nível de maturidade em dados da empresa
- Quais os dados mais críticos
- Onde estão os maiores riscos
- Quais são os objetivos do negócio
Essa clareza vai guiar sua estratégia.
Crie uma estrutura leve, mas funcional
Você não precisa começar com um framework completo. Algumas práticas simples já geram valor:
- Definir donos dos principais dados (data owners)
- Padronizar indicadores de negócio
- Documentar os principais fluxos de dados
- Criar um glossário de termos
O segredo está em manter a estrutura enxuta, mas com impacto.
Casos comuns de falha na governança de dados
“Ninguém usa o catálogo de dados”
Isso acontece porque o catálogo foi criado sem escutar quem usa os dados. Resultado: termos técnicos, excesso de informações inúteis e falta de conexão com o dia a dia. A solução?
Envolver os usuários na criação e garantir que o catálogo realmente resolva dores reais.
“Criamos um comitê que nunca se reúne”
O comitê é ótimo no papel, mas na prática virou um peso. Talvez o modelo esteja complexo demais, sem entregas visíveis. Simplifique.
Comece com reuniões menores, com foco claro e objetivo real. Mostre que vale a pena participar.
Conclusão: governança de dados que gera valor é feita com e para as pessoas
Se tem uma lição que fica clara nesse tema é: governança de dados imposta, sem diálogo e sem propósito, não funciona.
Pode até existir no papel, mas não se sustenta no dia a dia.
Por outro lado, quando respeitamos a cultura, ouvimos as pessoas e adaptamos a estratégia ao contexto da empresa.
A governança se torna aliada. Gera confiança. Melhora decisões. Aumenta a produtividade.
O papel da área de dados é guiar esse processo com empatia, propósito e foco no valor gerado.
Não basta dizer que governança é importante. É preciso mostrar, na prática, como ela pode transformar a forma como as pessoas trabalham e decidem.
Lembre-se: governança não é sobre controle. É sobre confiança. E confiança se constrói, não se decreta.